OBJETIVOS DO BLOGUE

Olá, bem-vindo ao blog "Chaves para a Sabedoria". A página objetiva compartilhar mensagens que venham a auxiliar o ser humano na sua caminhada espiritual. Os escritos contém informações que visam fornecer elementos para expandir o conhecimento individual, mostrando a visão de mestres e sábios, cada um com a sua verdade e experiência. Salientando que a busca pela verdade é feita mediante experiências próprias, servindo as publicações para reflexões e como norte e inspiração na busca da Bem-aventurança. O blog será atualizado com postagens de textos extraídos de obras sobre o tema proposto. Não defendemos nenhuma religião em especial, mas, sim, a religiosidade e a evolução do homem pela espiritualidade. A página é de todos, naveguem a vontade. Paz, luz, amor e sabedoria.

Osmar Lima de Amorim


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terça-feira, 22 de outubro de 2019

O CICLO DO SER E DO EXISTIR

Resultado de imagem para o ciclo do ser e do existir"Tudo que Existe egressa do Ser
E regressa ao Ser.
O Ser é o Insondável Tao.
Das profundezas do Ser
Nascem todos os seres que existem
O Ser, porém,
É o abismo do Não existir.

EXPLICAÇÃO: O Ser é eterno, sem princípio nem fim. É Brahman, a Divindade, o Infinito, o Uno. Mas é da íntima natureza do Ser manifestar-se sempre de novo em existir, assim como o Uno se revela no Verso, o Infinito no Finito.

Quando o Finito egride do Infinito, falamos em 'nascer' - quando ele regride à sua origem, falamos em 'morrer'.

Nascer e morrer não são princípios nem fins, são apenas etapas evolutivas na base do eterno Ser. São como ondas que se erguem e recaem no seio do mar."

(Lao-Tse - Tao Te King, o Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 113/114)


terça-feira, 8 de outubro de 2019

EMPREGO DOS TALENTOS

"Se você é dono de uma cadeia de jornais, não se esqueça de que é dono apenas durante algum tempo; o investimento que Deus lhe confiou é de liquidez absolutamente imprevisível.

A qualquer hora, tudo que supõe possuir pode ser definitivamente perdido. Ninguém é eterno, portanto, a posse, seja do que for, também não é.

Se você tem apenas uma vassoura para limpar as ruas, como empregado da limpeza urbana, não se esqueça de que o Investidor lhe confiou este tão pequenino talento para você fazer render.

Num e noutro caso, a verdade é que o Investidor vai cobrar a renda do investimento. E nisto o magnata que nada rendeu, que esperdiçou ou desviou o investimento, terá muito a lamentar, enquanto que o humilde gari, se fez render o pouquinho que lhe foi confiado. 'entrará na alegria do Senhor'.

Ajuda-me, Senhor, a gerenciar
bem o que me confiaste."

(Hermógenes - Deus Investe em Você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1985 - p. 57/58)


quinta-feira, 18 de julho de 2019

O CAMINHO

"O primeiro e mais importante ponto neste antigo e eterno Caminho é a Meditação. Sem a meditação diária, paciente, persistente nunca poderá ser encontrado o Caminho. Isso parece, para algumas pessoas, uma atividade difícil e fatigante. Entretanto, dentro de certa medida, todos nós 'meditamos'. Se estivermos empenhados no pensamento de um esquema de trabalho, ou mesmo num novo trabalho, estamos de certo modo 'meditando'. O homem de negócios, que aprende a concentrar o pensamento e a fazer um planejamento bem dirigido de suas atividades, está aprendendo algo que será de valor quando começar, em uma vida futura, a meditar de verdade. Planejar e pensar no que pode ser feito de melhor são formas de 'meditação'.

Permita-me dar uma lista de estados meditativos da mente na ordem de sua intensidade:
  1.  Aspiração, ânsia do coração para a Estrela, o Ideal, o Verdadeiro.
  2. Prece, levando ao reconhecimento de um 'mundo interior', e de que o homem é uma alma, bem como um corpo.
  3. Concentração direta ou pensamento em sequência. Isso, com o tempo, integra a personalidade.
  4. Pensamento concentrado num ideal, que acarreta a união do pensador com sua vida superior.
  5. Adoração e veneração. a mente tendo criado a forma, o coração é estimulado e brilha para o alto.
  6. Um apelo ao Eu Superior, pondo em atividade a Vontade Espiritual.
  7. A conscientização do Mestre e da 'Presença de Deus'."
(Clara Codd - A Técnica da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 67/68)
www.editorateosofica.com.br


domingo, 18 de fevereiro de 2018

ESFORÇO

"Colocar sua carga sobre o destino (culpando-o), e conservar-se acomodado, significa somente redução de esforço. Com esforço e oração, um novo destino pode ser atingido. Sem esforço e oração, um bom destino e a Graça¹ não serão obtidos. Comece seu esforço!

Grandes poemas versam sobre a eterna sede do homem por Deus; são ricos da ambrosia que mitiga tal sede. Satisfazem e suscitam forças para sorrir às tribulações da vida. Sem o sadhana espiritual, sem a expansão da consciência, sem a ampliação da simpatia, sem o aguçar da visão, sem o aprofundamento dos contados com a Fonte da Sabedoria, que está dentro de nós e dentro dos outros, a poesia não é mais que passatempo pálido e sem propósito.

As pessoas hesitam em entrar no campo do sadhana, embora anseiem pela colheita da alegria. Não estão dispostas a pagar o preço de uma simples empada e relutam em fazer um mínimo de esforço, no entanto desejam que moksha² caia do céu em seu regaço. Agradar-lhes-ia ter a visão de Deus, sem esforço, gravada em seus cérebros. Yajnavalkya deu à esposa, Maitreyi, imensa riqueza em ouro e gado, quando, em sua busca espiritual, ele deixou o lar. Ela lhe perguntou se aquilo tinha alguma utilidade. A ouvir de seu marido que eram efêmeros e baratos, se comparados com a riqueza da experiência espiritual, descartou tudo e se firmou no precioso valor de thapas³ e sradha⁴. Através destas, Maitreyi alcançou alegria eterna."

¹ A Graça, conforme alguns podem pensar, não é 'de graça', isto é, sem esforço pessoal. A Graça, no entanto, é como a chuva, que embora se dê a todos, só alguns poucos a aproveitam. E isso devido ao esforço que fazem para virar para cima a boca do copo. Os inertes, ficando com seus copos emborcados, nada colhem, embora a chuva caia 'de graça'. 
² Moksha - libertação dos círculos reencarnatórios; libertação de samsara, escape às reencarnações compulsórias.
³ Thapas - austeridade ascéticas, 'queima', que resulta em purificação. 
Sradha - fé.

(Sathya Sai Baba - Sadhana, O Caminho Interior - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1993 - p. 22/23)


sábado, 27 de janeiro de 2018

O CAMINHO DO AMOR (1ª PARTE)

"Aquele que trilhar o caminho do amor deve descobrir aquela alquimia espiritual que transmuta o amor mais baixo no mais alto; deve conhecer a ciência sagrada pela qual as piores qualidades da alma, passando pelo crivo do pensamento, possam ser sujeitadas pelo fogo ardente da vontade, para que sua essência possa ser destilada, gota a gota, e então colocado nas mãos do experimentador o tão almejado elixir da vida. Do vil obterá o puro; do imperfeito, a perfeição; do impermanente, o eterno. Até que essa ciência seja aprendida, e tudo o que for baixo tenha sido purificado, o homem não pode ser um salvador do mundo. 

Um salvador do mundo é aquele que se emancipou de toda fraqueza humana, caminhou pela estrada do amor e, caminhando, tornou-se divino. Os que vão passar por esta estrada, a qual atravessaram aqueles cujos pés sangraram, devem aprender a ciência que eles aprenderam; deve preparar a cruz do pensamento, deve acender em si mesmos o ígneo poder da vontade e, tomando cada vício, fazê-los objeto de experimento, e então transmutá-los, um a um, na virtude oposta, pois, acima de tudo, o amor deve ser puro. 

Assim como o lixo terrestre é destruído pelo fogo, o lixo da alma deve ser incinerado pelo fogo da vontade. Todo o vício, ainda que grande, esconde um precioso perfume que ele procura, cada fraqueza se revela fonte de uma força oculta, cada erro esconde uma verdade; vício, fraqueza, erro, estes são os equipamentos com os quais o homem começa a palmilhar a estrada do amor. A fim de que sejam transformados em seus opostos, o homem deve retirar-se para o laboratório de sua alma, e lá preparar os instrumentos de seu trabalho. Os instrumentos são: pensamento e vontade; estes dois, apenas, fornecem tudo de que necessita; de sua união uma criança nascerá; a criança é o amor. Os homens a conhecem como Hórus, ou como Cristo. 

Tendo-se retirado para a reclusão dos recessos mais íntimos de sua alma, aquele que um dia será um amante da humanidade deve estocar seus recursos, deve procurar em seu eu terreno as ervas das quais extrairá as essências procuradas. Distanciado de seus desejos, ele os cortará um por um do solo de sua natureza, onde tão firme deitaram raízes. Vício, sexualismo, sensualidade, impureza, egoísmo, crueldade, mentira, indiscrição, superstição, avareza, e ilusão, tais são os nomes das plantas que ele juntará na selva de sua natureza inferior, selva cujo dever seu é transformar no mais refinado jardim da terra. Cada planta que tiver arrancado ele porá sob a minuciosa lente de seu pensamento e provará ao fogo de sua vontade inquebrantável; este fogo não deverá abrandar-se, menos ainda extinguir-se, até que raízes, folhas e flores se tenham consumido. Então, no receptáculo espiritual, o veículo de seu Eu Imortal, no qual reside a imortalidade, o líquido precioso que destilou será recolhido, gota a gota. Lá será guardado até que a secreta farmácia de sua alma seja abastecida, prateleira após prateleira, com aquelas essências vitais das quais fluirá um dia a panacéia universal. Esta panacéia é o amor. (...)" 

(Geoffrey Hodson - Sede Perfeitos - Canadian Theosophical Association)



domingo, 10 de dezembro de 2017

PRECES PELOS MORTOS

"P 191: As preces pelos mortos têm algum valor? Se o têm, como devem ser oferecidas?  

R: As preces sempre têm valor, tanto para os vivos como para os mortos, quando são ditadas pelo amor. Uma prece será eficaz na proporção da intensidade do pensamento expressado por ela, da pureza e força de vontade com as quais for dirigida à pessoa em questão, e do conhecimento que possua o solicitante. Uma oração, assim como um pensamento, cria uma forma, um elemental artificial, 'um poder benéfico ativo' que vai até a pessoa para cujo benefício foi criado e que a ajuda quando a oportunidade se apresentar. Essa energia posta em jogo no plano astral pode afetar qualquer pessoa em seu corpo astral; portanto, é possível auxiliar e proteger um morto com tais formas mentais enquanto ele permanecer no mundo astral.   

Um homem que compreenda a constituição do corpo astral e o poder do pensamento pode aumentar enormemente sua ajuda pelo envio deliberado de um elemental artificial, que auxilie na desintegração dos cascões astrais que aprisionam a alma, e que impulsione seu passo para o Devachan. Alguns dos Mantrans dos Shraddhas hindus (cerimônias para os mortos) têm esse objetivo em perspectiva, e são muito eficazes quando empregados por um homem sábio e santo.  

Entretanto, o homem comum conhece tão pouco sobre a condição de seus entes queridos, já mortos, que fará muito bem em abster-se de colocar em movimento uma força que possa ser mal dirigida, por falta de conhecimento mais exato acerca do que eles necessitam. Tal pessoa procederia melhor se usasse aquela famosa antífona que tão frequentemente se ouve nos serviços para os defuntos, na Igreja Católica: 'Concede-lhe, oh Senhor, descanso eterno e que a luz perpétua brilhe para ele'. Pois essas duas cláusulas expressam exatamente as condições de que o defunto mais necessita: primeiro, perfeito descanso de todo cuidado e pensamento terrestres, a fim de que não seja perturbado seu progresso na direção do mundo celeste; e segundo, a luz perpétua do amor divino, brilhando claramente sobre ele através da parte superior e mais espiritual de sua própria natureza, atraindo-o sempre até essa elevada luz para que seu progresso possa ser rápido. Em verdade, muito pouca ajuda posterior pode a Terra oferecer a um homem para quem essa prece for repetida constante e fervorosamente. Dessa maneira, qualquer um pode ajudar seus amigos ou seres queridos, ao elevar-se a um nível superior, esquecendo-se de si e do engano da perda aparente, enviando pensamentos de 'luz perpétua e paz eterna', e substituindo a tristeza Egoísta e inútil por bons desejos, sinceros e amorosos, para que o progresso daqueles seja rápido desde o mundo astral até o celestial." 

(Pestanji Temulji Pavri - Teosofia explicada em perguntas e respostas - fl. 175/176)
Fontehttp://www.lojadharma.org.br


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O PECADO DAS MINHAS ORAÇÕES

"Penso com horror nas minhas preces de outrora,
Quando eu pedia alguma coisa
Vida, saúde, prosperidade e outros ídolos
Como se algo houvesse de real,
Fora de ti, meu Deus,
Realidade única, total, absoluta!
Como se em ti não estivessem contidas
Todas as coisas do universo!...
Como se todos esses pequenos 'realizados'
Não fossem reflexos de ti, o grande 'Real'!...
Tamanha era a minha ilusão dualista,
Que eu julgava poder possuir algum efeito individual
Sem possuir a Causa Universal!...

Hoje morreu em mim toda essa idolatria,
Esse ilusório dualismo objetivo.
Redimido pela verdade libertadora,
Sinto, hoje, nas profundezas do meu Ser,
O grande monismo do Universo.
Hoje, o alvo das minhas orações
És tu, Senhor, unicamente tu.
Hoje, sei e sinto que, possuindo a ti,

Possuo em ti todas as coisas
Que de ti emanaram,
E em ti ficaram...
Todas as coisas que, por mais distintas de ti,
São todas imanentes em ti.
Porque tu és a eterna Essência
De todas essas Existências temporárias.
Hoje não quero mais nada
Senão a ti somente, Senhor,
Porque em ti está tudo
Que, fora de ti, parece existir.

E, porque assim te amo, Senhor,
Amo também tudo que é teu,
Tudo que, disperso pelo cenário cósmico,
Veio de ti,
Está em ti,
Voltará a ti.
Revestiu-se de mística sacralidade
O meu antigo amor profano,
Desde que vejo o Deus do mundo
Em todas as coisas do mundo de Deus.
E o pecado das minhas orações de outrora
Foi remido pela verdade da minha prece de hoje."

(Huberto Rohden - Escalando o Himalaia - p. 17/18)

terça-feira, 19 de setembro de 2017

PARA APRENDER, A MENTE PRECISA ESTAR TRANQUILA

"Para descobrir algo novo, você precisa começar por você mesmo; precisa iniciar uma jornada completamente despojado(a), especialmente de conhecimento, porque é muito fácil, mediante o conhecimento e a crença, ter experiências, mas elas são simplesmente o produto da autoprojeção, por isso totalmente irreais, falsas. Para descobrir por si mesmo o que é novo, não é bom carregar o peso do velho, especialmente o conhecimento, por mais incrível que ele seja. Usamos o conhecimento como um meio de autoprojeção, de nos manter seguros, e acreditamos que estaremos certos apenas se tivermos as mesmas experiências que Buda, Cristo ou X tiveram. Porém, um homem que está se protegendo constantemente com auxílio do conhecimento, é óbvio que não é um buscador da verdade...

Para a descoberta da verdade não há caminho... Quando se quer encontrar algo novo, quando se está experimentando alguma coisa, a mente tem de estar muito tranquila, certo? Se a mente está sobrecarregada, repleta de fatos e conhecimento, estes atuam como um impedimento ao novo. Para a maioria de nós, a dificuldade é que a mente se torna tão importante, tão predominantemente significativa, que interfere constantemente em qualquer coisa que possa ser nova, em qualquer coisa que possa existir simultaneamente com o conhecido. Por isso, o conhecimento e a aprendizagem são impedimentos para aqueles que buscam, tentam entender aquilo que é eterno." 

(Krishnamurti - O Livro da Vida - Ed. Planeta do Brasil Ltda., São Paulo, 2016 - p. 22)

segunda-feira, 13 de março de 2017

A REENCARNAÇÃO E SUA NECESSIDADE (1ª PARTE)

"Há apenas três explicações para as desigualdades humanas, sejam de capacidade, de oportunidade ou de circunstância, 1: Criação especial por Deus, implicando que o homem é indefeso, seu destino sendo controlado por uma vontade arbitrária e incalculável. 2: Hereditariedade, conforme sugere a ciência, implicando igual impotência por parte do homem, sendo ele o resultado de um passado sobre o qual não teve controle. 3: Reencarnação, implicando que o homem pode tornar-se senhor do seu destino, o resultado do seu próprio passado individual, sendo, assim, o que fez de si mesmo. A criação especial é rejeitada por todos os que raciocinam, como explicação para as condições que nos rodeiam, a não ser na mais importante de todas elas, o caráter com o qual e o ambiente ao qual nasce uma criança. A evolução é tida como certa em tudo, menos na vida da inteligência espiritual chamada homem. Ele não tem passado individual, embora tenha um futuro individual infinito. O caráter que traz com ele – e do qual, mais do que qualquer outra coisa, depende o seu destino na Terra – é, segundo essa hipótese, especialmente criado para ele por Deus, e é imposto a ele sem qualquer escolha de sua parte, destino saído da sacola da sorte da criação, da qual ele pode retirar um prêmio ou um bilhete em branco, sendo este último a condenação ao infortúnio. Do jeito que for, ele deve aceitá-lo.

Se da sacola ele retirar uma boa disposição, ótima capacidade, uma natureza nobre, tanto melhor: ele nada fez para merecê-lo. Se tirar uma criminalidade congênita, uma idiotia congênita, uma moléstia congênita ou um alcoolismo congênito, tanto pior para ele: ele nada fez para merecê-lo. Se a eterna bem-aventurança está anexada a um e o tormento eterno a outro, o desafortunado deve aceitar sua má sorte como puder. O poder do oleiro não é maior do que o da argila? Isso pareceria triste, se a argila pudesse sentir.

Sob outro aspecto, a criação especial é grotesca. Um espírito é criado especialmente para um pequeno corpo que morre poucas horas depois de ter nascido. Se a vida na Terra tem algum valor educativo ou experimental, esse espírito será, para sempre, o mais pobre, ao perder a vida, e a oportunidade perdida jamais poderá ser recuperada. Se, por outro lado, a vida humana na Terra não é essencialmente importante e leva com ela a certeza de muitas ações más e de sofrimento, e a possibilidade de sofrimento eterno ao seu final, o espírito que vem para um corpo que dura até a velhice mal pode tratar dele, pois deve suportar muitas doenças que o outro pode evitar, sem qualquer vantagem equivalente. E pode ser condenado para sempre.

A lista das injustiças induzidas pela ideia da criação especial poderia ser ampliada ao infinito, porque tal ideia inclui todas as desigualdades. Ela faz miríades de ateus, que a consideram incrível para a inteligência e revoltante para a consciência. Ela coloca o homem na posição de inexorável credor de Deus, perguntando, estridentemente: 'Por que me fizeste assim?' (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento)

quarta-feira, 8 de março de 2017

OS CORPOS IMORTAIS DO HOMEM (1ª PARTE)

"'Temos uma casa de Deus, uma casa que não é feita com as mãos, e que é eterna nos céus' – disse o grande Iniciado cristão São Paulo, 'porque neste (corpo) gememos, desejando ardentemente sermos providos com a nossa morada que está no céu.' Essa casa celeste é a que se constrói com os corpos imortais do Homem, a habitação do Espírito através de eras infinitas, a morada do próprio homem, através de nascimentos e mortes, através do incomensurável período de sua vida imortal em manifestação.

O Espírito, que é 'o fruto de Deus', reside sempre no seio do Pai, como verdadeiro filho de Deus, e compartilha a Sua vida eterna. Deus fez o homem para ser 'a imagem da Sua própria eternidade'. A esse Espírito chamamos Mônada, porque é uma unidade, a verdadeira essência da Personalidade. A Mônada, quando desce para a matéria, a fim de conquistá-la e espiritualizá-la, apreende para si própria um átomo de cada um dos três mundos superiores, para deles fazer os núcleos dos seus três corpos superiores – o superespiritual, o espiritual e o intelectual. A esses corpos, com um fio de matéria espiritual (búdica), liga-se também uma partícula de cada um dos três mundos inferiores, núcleos dos seus três corpos inferiores.

Por longas, longas eras, ele paira sobre esses núcleos, enquanto seus futuros corpos mortais, apenas tocados com a sua vida, escalam vagarosamente a subida através dos reinos mineral, vegetal e animal, enquanto pequenas agregações da matéria dos três mundos superiores (a 'morada de Deus... nos céus') formam um canal para a sua vida, começando a manifestar-se naqueles mundos; e quando a forma animal atinge o ponto em que a vida que sobe faz um forte apelo ao superior, ele envia através dela, em resposta, uma pulsação de sua vida, e o corpo intelectual subitamente é completado, tal como a luz lança raios entre os carvões de um arco elétrico. O homem então está individualizado para a vida nos mundos inferiores. (...)"

(Annie Besant - O Enigma da Vida - Ed. Pensamento

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

OS PARADOXOS DA VERDADE

"Quem demanda a perfeição
Parece ser imperfeito.
Embora a sua oculta plenitude
Plenifique todas as vacuidades.
Quem possui verdadeira plenitude
É inesgotável,
Por mais que se esgote.
Quem anda direito,
Parece torto.
Grande habilidade
Parece inabilidade.
Arte genuína
Parece mediocridade.
Movimento supera o frio.
Quietação vence o calor.
O que é puro e reto
Sempre orienta o mundo.

EXPLICAÇÃO: Tudo o que é do mundo da qualidade é ignorado pelo mundo das quantidades. A qualidade não está sujeita a tempo e espaço, porque é do eterno e do infinito. E, por isso mesmo, o que não pertence ao mundo da qualidade é tachado pelos cultores das quantidades como irreal e ilusório.

O cego acha normal a escuridão - e anormal a luz.

O surdo acha normal o mundo sem som - e anormal o mundo do som.

O doente que nunca conheceu saúde pode achar normal a doença - e anormal a saúde.

Por isto disse alguém: 'A loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria dos homens - e a fraqueza de Deus é mais forte que a força dos homens';

As grandes verdades quase sempre aparecem em forma de paradoxos - que não devem ser explicados - mas aplicados."


(Lao-Tse - Tao Te King, O Livro Que Revela Deus - Tradução e Notas de Huberto Rohden - Fundação Alvorada para o Livro Educacional, Terceira Edição Ilustrada - p. 122/123)


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO (2ª PARTE)

"(...) A verdade é eterna. Está sempre aí e sempre esteve, porque é o fato existencial. Posso culpar a televisão e a propaganda, posso culpar meus pais pelo condicionamento de minha mente, mas, se eles não a tivessem condicionado alguma outra coisa teria. Não existe nada entre mim e a verdade, exceto eu mesmo.

Portanto, estou buscando perceber a verdade, mas eu mesmo estou barrando o caminho. Como sair dessa? É simples: temos que morrer para o 'eu', para o processo egoico. Explorando-o e observando-o, sem condená-lo ou justificá-lo. conseguimos ver como esse processo surge, o que ele faz às nossas vidas e aos nossos relacionamentos. Talvez, ao assim observar, a consciência perceba que eu mesmo estou criando o processo egoico, e que sou responsável por criar miséria em minha vida. Quando enxergarmos o perigo desse processo, talvez então ele termine.

O problema do ódio, ciúme, apego, desejo e frustração são como muitos ramos de uma enorme árvore, cuja raiz é o processo egoico. Quando um desses problemas se manifesta, começamos a investigar para resolvê-lo; quando é resolvido, nós paramos. Mas não paramos naquele ponto. Continuamos com a investigação, embora a dor tenha desaparecido. Se você recuar bastante para chegar até a raiz, verá que cada ramo tem o potencial de desenterrar toda a árvore.

Não faz sentido cortar apenas um ramo, porque, enquanto a raiz estiver lá, outro ramo crescerá. Krishnamurti costumava dizer: 'Continue observando; comece com qualquer coisa que esteja ocupando sua mente, mas não aceite respostas simples. Não se evada, não se satisfaça com a resolução do problema imediato. Pergunte por que ele surgiu e aprofunde-se nele.' Isso dá à pessoa a oportunidade de aprender a respeito de si própria com profundidade. (...)"

(P. Krishna - Novas maneiras de ver o mundo - Revista Sophia, Ano 7, nº 25 - p. 10/11)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

VIRTUDE E SABEDORIA (1ª PARTE)

"A vida é um processo de crescimento lento. A alma do homem cresce como cresce uma flor. É o jardineiro que a faz crescer? Ele pode somente ajudá-la um pouco. Ninguém pode ajudar-nos tanto quanto nosso próprio Eu Superior com seu amor. Nem mesmo o Mestre. 'Nada que esteja corporificado, nada que esteja consciente da separação, nada que esteja fora do eterno, pode ajudá-los.' (L.C.) Pense a respeito, visualize (lembrando sempre que nenhuma forma-pensamento é a própria coisa, mas sim um canal através do qual brilha a Realidade sem forma). Ponhamos em prática tudo que nos leve para mais perto da Eternidade e de nossos irmãos da humanidade, todos os ideais de amor, beleza e alegria, que movem o coração, não somente a cabeça. Pois o coração está mais próximo do Mestre do que a cabeça. A consciência espiritual está no chakra dourado, próximo do coração, enquanto a consciência intelectual está na cabeça. Devemos 'Crescer como crescem as flores, inconscientemente, mas ansiosos para abrir a alma para o ar. Assim você deve fazer para abrir sua alma para o eterno. Mas deve ser o eterno que o impulsione para sua força e beleza, não o desejo de crescimento. Pois em um caso você se desenvolve na exuberância da pureza; no outro, você se endurece pela violenta paixão por estatura pessoal.' (L.C.) Muitas pessoas assim o fizeram.

Não é fácil nos esquecermos de nós mesmos. O próprio fato de querermos fazê-lo significa pensamento no eu. Talvez o melhor meio seja cultivar interesse por tudo quanto vive e por todas as esferas da vida. Então o pensamento do 'eu' irá desvanecer-se. Interesse e benevolência o terão matado. Tome cuidado com os apegos e as rejeições pessoais. Eles são geralmente irracionais. O homem mundano ajuda as pessoas de quem gosta, sendo frequentemente injusto com aquelas de quem não gosta. Mas aquele que vier a ser discípulo ajudará, se possível, todos os homens e toda vida sem distinções de qualquer espécie. (...)"

(Clara Codd - As Escolas de Mistérios - Ed. Teosófica, Brasília, 1999 - p. 153/154)

domingo, 25 de dezembro de 2016

MUDANÇAS CONSTANTES (PARTE FINAL)

"(...) As crianças permanecem felizes mesmo em circunstâncias difíceis. Elas brincam, distraem-se  com qualquer coisa que haja em torno e continuam felizes. A questão de aceitar ou não as mudanças não surge no caso das crianças, porque para elas a vida é uma brincadeira; quando o brinquedo deixa de ser interessante, elas simplesmente o abandonam para fazer alguma outra coisa. Assim, quase como uma criança, podemos abrir mão de algo divertido ou belo. Mas não conseguimos fazê-lo quando a coisa permanece na memória; queremos experienciar o mesmo repetidamente, talvez com alguma pequena mudança que nos agrade. Portanto, o sentimento do 'eu' é criado por uma atitude que recusa aceitar o que não pode ser eterno.

Nenhum de nós é o tipo de indivíduo independente que pensamos ser. Faz parte do eu imaginar-se um indivíduo forte (se possível, mais forte do que qualquer outro). Mas se investigarmos em profundidade, descobriremos que, como qualquer outra pessoa, somos dependentes de muitas coisas diferentes para nossa existência, e que é enganoso o conceito de uma entidade permanentemente independente.

É útil não apenas pensar, mas também meditar a respeito disso. Não será de curta duração esse corpo e essa situação na qual nos encontramos? Podemos viver durante cem anos, mas o que são cem anos na história? Nada. Assim, as perguntas que temos de nos fazer são: 'O que vive realmente? O que é o sentimento de ego que surge em nós?' Devemos responder a essa pergunta por nós mesmos. Certamente existem filosofias que afirmam existir um Atman (espírito universal) permanente, a raiz de tudo que existe. Mesmo que seja assim, temos que entender o pequeno eu e as muitas coisas que experienciamos como ilusão."

(Radha Burnier - O caminho do desapego - Revista Sophia, Ano 10, nº 40 - p. 22)

sábado, 10 de dezembro de 2016

A PONTE ENTRE A CONSCIÊNCIA INFERIOR E SUPERIOR (PARTE FINAL)

"(...) Somente o homem, em toda a criação, tem o poder de ficar face a face com Deus, porque tem em si uma fagulha, um germe da Vida Eterna e da Consciência do Universo. 'O Princípio que dá a vida mora em nós e fora de nós, é imortal e eternamente beneficente, não é ouvido, não é visto, não é cheirado, mas é percebido pelo homem que deseja percepção'. ('As Três Verdades'). 

Este Caminho ascensional é também apreciado com grande beleza pelo Mestre K. H. numa carta à senhora Francisca Arundale: 'Filha de sua raça e de seu tempo, apodere-se da caneta de diamante e escreva nas páginas de sua vida uma história de ações nobres, de dias vividos corretamente, de anos de esforço devotado. Assim você abrirá seu caminho sempre para cima, para os planos superiores da conciencia espiritual. Não tema, não desanime, seja fiel ao ideal que agora só pode ver vagamente'²³. Com o progresso lento no caminho a idéia e a visão vão-se tornando mais claras e mais fortes. O Mestre K. H., numa carta a outra senhora (no mesmo livro)²⁴, diz: Pouco a pouco sua visão ficará clara, você descobrirá que as névoa se dissipam, que suas faculdades interiores se fortalecem, sua atração para nós ganha força e a certeza toma o lugar das dúvidas'. 

Antahkarana, a 'ponte', uma vez formada, permitirá à inteligência transferir-se da mente do pensamento concreto comum para o plano mais elevado, para a mente mais divina. Este é o 'Filho de Deus', o espírito de Cristo em nós. Além está o plano da Consciência Divina universal e eterna, mas primeiramente, deve-se atingir a consciência de nosso próprio Ego mortal. Através dele chegamos a Deus, a Vida Divina. Isto é simbolizado pelo Senhor Cristo quando diz, identificando-se com o Eu Divino em todos os homens: 'Eu sou o caminho, a verdade e a vida; nenhum homem chegará ao Pai senão por mim'. 

Diz H. P. B.: 'Nenhum degrau da escada que vai ter ao conhecimento pode ser omitido. Nenhuma personalidade pode atingir ou entrar em comunicação com Atma (Divindade) a não ser através de Budhi-Manas (nossos Egos divinos)'.²⁵ 

A Consciência do Eu Superior, uma vez atingida, ilumina e inspira a consciência humana inferior. Certamente, é como foi dito anteriormente, todo o propósito da evolução assim fazer, mas antes que a 'Graça de Deus' possa descer e se apossar de nós, devemos, para que isso seja possível, empenhar todos os esforços. A este respeito H.P.B. cita a Cabala: 'Todas as criaturas no mundo tem alguém que lhes fica acima. Este superior tem o prazer interior de esparzir sobre elas seus eflúvios, mas não pode fazê-lo enquanto elas não o tenham adorado' (isto é, meditando como se faz no Yoga)."

²³ Cartas dos Mestres de Sabedoria, comp. C. Jinarajadasa. Ed. Teosófica, Brasília, 2011, p. 67. (N.E.)
²⁴ Ibidem, p. 146 (N.E.)
²⁵ A Doutrina Secreta, Vol. III, Ed. Pensamento, São Paulo. (N.E.)

(Clara Codd - A Técnica da Vida Espiritual - Ed. Teosófica, Brasília, 2013 - p. 75/76)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A NATUREZA DA DIVINDADE (1ª PARTE)

"O que quer dizer o termo 'Deus'? A sabedoria Antiga afirma a existência de uma vida transcendente, autoexistente, eterna, onipenetrante, que tudo sustém, por meio da qual e na qual todas as coisas que existem se originaram, vivem, movem-se e têm o seu ser. Essa vida é imanente em nosso mundo e no sistema solar como o Logos, o 'Verbo', adorado sob diferentes nomes em diferentes religiões, mas reconhecido como o único Criador, Preservador e Regenerador. O sistema solar é dirigido e guiado pelo Logos Solar por meio de uma hierarquia de seres altamente evoluídos, os 'Poderosos Espíritos diante do Trono'. Na Terra essas funções são conduzidas por uma hierarquia de homens perfeitos, referidos como rishis, sábios, adeptos, santos. O princípio Divino Absoluto revela-se num processo Universal de perpétuo desdobramento de potencialidades. Embora esse processo seja consumado segundo lei eterna, ele não é mecânico, sendo dirigido ajudado pelo Logos Solar por intermédio de Seus ministros. Deus é assim apresentado como transcendente e imanente, além de criador, sustentador e transformador de todos os mundos e a fonte espiritual de todos os seres dentro do Seu sistema solar. 

Essas definições de deidade não se harmonizam com a ideia de Deus aceita pelo cristianismo. Na sabedoria Eterna, Deus não é apresentado como uma figura antropomórfica, um ser onipotente em forma humana e com tendências humanas associadas a poderes divinos. Ele¹ não é considerado sensível à propiciação, mas é sobretudo uma incorporação da lei eterna. Ele não confere favores a alguns em detrimento de outros, todos Seus filhos são considerados igualmente. Ele não está distante num céu remoto, mas, de fato, presente como a vida divina na natureza e a divina Presença no homem, o 'Deus que opera em vós...' (Fl 2:13). (...)"

¹ O masculino é usado por conveniência apenas, sendo o princípio divino considerado igualmente como masculino, feminino e andrógino.

(Geoffrey Hodson - A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada - Ed. Teosófica, Brasília, 2007 - p. 56/57)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

PENSAMENTO E SENTIMENTO ESTÃO SUJEITOS A MUDANÇA (PARTE FINAL)

"(...) As formas podem dar-nos infinito deleite, talvez porque sintamos a vida divina nelas. Para citar um dos Upanishads: 'Não é por amor aos mundos que os mundos são queridos, mas os mundos são queridos por amor do Eu'. Talvez, acima de tudo, seja porque sintamos a Vida interiormente que chegamos a amar as formas, a admirá-las e ao mesmo tempo a amar suas transformações - isto é, estamos desejosos de que as formas morram. 'Aquele que prende a si uma alegria destrói a vida alada, mas aquele que beija a alegria enquanto ela voa, vive na eternidade da aurora'. A adaptabilidade que a vida mostra e os mutantes disfarces do homem e da Natureza nos fascinam, tanto quanto os propósitos a que servem. O passado assume um aspecto diferente; a história torna-se a expressão infinitamente variante do homem lutando através de várias tolices. Podemos observar a revolta contínua do homem contra Deus, contra a Natureza, na maioria das vezes contra si mesmo. É um paradoxo que, embora seja tão apegado às formas, o homem apesar de tudo anseie por transformações e, porque ele anseia por elas, ele as sofre. Ele não sofreria sua maior transformação, a reencarnação, se não a desejasse, se não fosse forçado a reencarnar repetidamente devido à sua sede de vida.

Ao longo da evolução ele compreende o que está acontecendo. Gradualmente ele tende cada vez mais a abraçar a vida em vez das formas, e assim ele não mais sofre com sua inconstância. ele as ama, como se pode dizer que a videa sensibilizadora as ama. O processo é gradual, mas a realização em si pode surgir num instante. A realização ou transformação, a expansão de consciência, foi descrita na literatura do misticismo. Krishnamurti diz-nos que: 'O som de um sino tocando, uma pedra que cai, um simples acontecimento diário pode ser a centelha que leva o monge Zen budista à realização'. Ele assinala repetidamente a alegria, o intenso senso de viver, que existe em estar perceptivo e simplesmente observar as coisas e suas transformações constantes. Essa é realmente a dança de Shiva, para sempre esmagando com os pés as velhas formas que serviram seu propósito, enquanto ao mesmo tempo é criada nova beleza.

Transformação é evolução. O próprio viver é uma transformação contínua e estamos em meio a ela - somos parte dela e somos um com ela. Transformar-se em quê? Na verdade não podemos saber atualmente. Seria fútil inquirir. Não podemos conhecer o futuro, pois nós mesmos seremos diferentes; estaremos transformados quando encontrá-lo. De qualquer maneira não existe causa para temor do desconhecido. É simplesmente uma experiência - transformação interior e exterior. Nossa senda pode levar-nos a uma prontidão - mesmo à necessidade - de renunciar não apenas às formas que amamos, mas até mesmo àquilo que sentimos ser nossa própria vida ou eu. Sri Ram diz-nos: 'a verdadeira grandeza [do homem] jaz em nada ser, em se erradicar por meio de sua boa obra disseminada em toda parte'. Poderíamos ver isso como uma transformação última, porém eterna."

(Mary Anderson - Transformação - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 33/34)

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

PENSAMENTO E SENTIMENTO ESTÃO SUJEITOS A MUDANÇA (1ª PARTE)

"Assim, existe uma mudança sutil quanto à ênfase do papel predominante da vida para um papel como forma. Como a transformação ocorre dentro de nós ao longo de muitas encarnações e é repetida no processo de desenvolvimento de uma criança ao longo de toda nossa evolução humana, primeiramente nos identificamos e à nossa vida com nossos corpos físicos. Leva algum tempo antes que compreendamos que estes corpos são formas que irão passar. Depois quando vemos o corpo como uma forma passageira, são os nossos sentimentos que parecem ser duradouros. Quando adolescentes, juramos amizade eterna ou amor eterno. Posteriormente compreendemos que nossos sentimentos estão também sujeitos a transformação constante, e são nossas ideias que agora consideramos como duráveis. A essa altura somos muito dogmáticos. Isso também passa e podemos adquirir uma certa flexibilidade de pensamento até que compreendamos que até mesmo o pensamento é apenas uma vestimenta, e que algo mais profundo interiormente representa para nós a vida eterna.

O processo pode continuar - o que sentíamos ser uma alma imortal compreendemos ser, por sua vez, um simples veículo temporário ou uma forma, como os outros, sujeito a transformação. Até mesmo Buddhi é um veículo de Atma, não no sentido de um corpo ou de uma forma como os vemos, mas talvez como um tipo de véu tênue - mais sutil do que o mais sutil que conseguimos imaginar. À medida que o homem evolui, a personalidade torna-se cada vez mais a expressão direta do Ego, que é uma forma que reflete verdadeiramente a vida interior. O homem está agora cônscio como um Ego imortal sensibilizando a personalidade como sua forma. Dizem que, com o tempo, até mesmo o Ego deixa de existir como tal, pois, afinal de contas, ele é simplesmente o veículo ou a forma externa da Mônada. Assim, também ele está sujeito a transformação e parece desaparecer. Podemos começar a nos perguntar se, de um certo ponto de vista, a distinção entre vida e forma não é uma ilusão - se vida e forma são, depois de tudo, não duas coisas distintas, mas realmente duas funções da mesma coisa divina.

Voltemos ao nosso estado atual - a nossa condição presente - em relação ao mundo objetivo, onde estamos apegados a formas materiais e sofremos quando elas são transformadas. Como vimos até certo ponto com relação à nossa própria constituição, logo que deixamos de nos identificar com certas formas, toda nossa atitude com relação a elas muda. Ao mesmo tempo nossa atitude com relação à transformação dessas formas muda. Essa mudança é em si mesma uma transformação em nós, uma transformação na consciência até onde a consciência seja forma, até onde esteja cercada, modelada pela forma. Talvez, realmente, seja mais uma questão de ir além das formas do que atravessá-las. Em outras palavras, quando vemos as formas aprisionando nossas consciências, nossos lamentos e preconceitos com relação a elas desaparecem e nossa consciência torna-se correspondentemente livre. Uma expansão de consciência ocorre quando não mais estamos pessoalmente e, portanto, dolorosamente, apegados a elas. (...)"

(Mary Anderson - Transformação - TheoSophia - Outubro/Novembro/Dezembro de 2009 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 32/33)

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O TEMPLO

"Isto mesmo, jovem. Cuide bem de seu corpo.

Alimente-o inteligentemente. Não o desgaste em excessos esportivos, eróticos ou profissionais. Não o amoleça com prolongados e estagnantes repousos. Dê-lhe atividade correta. Pratique ginástica, de preferência Hata Yoga. Recuse-se a iniciar qualquer vício. Mantenha seu corpo jovem, forte, elegante, ágil, limpo por dentro e por fora, eficiente, lépido, resistente...

Mas, por favor, nunca chegue a fazer de seu corpo um ídolo para sua adoração. Idolatria, não. Narcisismo, nunca. 

Nunca se esqueça - se é que pretende evitar enorme frustração - de que embora precioso, ele não é eterno, e não passa de um simples equipamento do Espírito.

O Espírito que você realmente é, está, temporariamente, utilizando o corpo.

Seu corpo é maravilhoso talento que você - Espírito - tem de administrar muito bem. Com cautela e muita dignidade. 

Eis, Senhor, meu corpo-templo. Santifica-o."

(Hermógenes - Deus investe em você - Ed. Nova Era, Rio de Janeiro, 1995 - p. 97)


sábado, 16 de julho de 2016

ABRINDO MÃO (PARTE FINAL)

"(...) Um rio começa como um pequeno córrego e se torna caudaloso. Na verdade, a água que se viu há um minuto foi-se embora e nova água chega. Assim, o rio é continuamente diferente, não há nada que possamos chamar de 'o rio'. Isso é algo a ser considerado. Não é o mesmo rio que vimos ontem; a água fluiu para o oceano. Contudo ainda é um rio, embora a água não seja a mesma. É quase um paradoxo - um problema que a mente humana não consegue assimilar, porque é intangível.

Tich Nhat Hanh, um famoso instrutor budista, diz que como ocorre mudança constantemente em tudo, devemos tentar compreender, por meio da meditação, que a mudança é para o bem. Impermanência não é miséria, mas não gostamos de enfrentá-la. A vida move-se continuamente, mas gostaríamos que ela parasse e mudasse quando quiséssemos que ela o fizesse. Gostaríamos de ver mudanças em algumas coisas, como por exemplo, nos grãos de milho. Isso levará algum tempo, mas tempo é um tipo de ilusão que experienciamos. O grão que é plantado cresce e se torna milho. Se não ocorresse a mudança, o grão de milho não se tornaria uma planta e não teria utilidade. O crescimento torna possível ao milho realizar-se, para que dele desfrutemos e para que novo milho cresça. Assim, devemos aprender a aceitar a mudança constante, porém nossas mentes são de tal natureza que não aceitam mudança. Este é o começo da dor.

A maioria das crianças permanece feliz mesmo em circustâncias difíceis. Elas brincam, distraem-se com um pouco de lama ou o que quer que haja, e continuam felizes. A questão de aceitar ou não aceitar não surge no caso das crianças, porque para elas a vida é uma brincadeira, e quando o brinquedo deixa de ser interessante, elas o abandonam e brincam com alguma outra coisa. Desse modo, quase como uma criança, podemos abrir mão de algo que seja divertido ou belo. No entanto, não conseguimos fazê-lo quando o fato permanece na memória e queremos experienciar a mesma coisa repetidamente, talzez com alguma pequena mudança que venha anos agradar. O sentimento do eu é criado por uma atitude que recusa aceitar o que não pode ser eterno.

Nenhum de nós é o tipo de indivíduo independente que pensamos ser. E é parte do eu imaginar-se um indivíduo forte, se possível mais do que qualquer outro. Mas, se nos aprofundarmos nesse sentimento, descobriremos que, como qualquer outra pessoa, somos dependentes de muitas coisas diferentes para nossa existência, e que é errada a ideia de uma entidade independente permanente. É válido para nós não apenas pensar, mas também meditar a respeito disso. Não será este corpo e a situação na qual nos encontramos de curta duração? Podemos viver durante cem anos, mas o que são cem anos na história? Nada. Assim, as perguntas que temos de nos fazer são: 'O que vive realmente? O que é o sentimento de egoidade que surge em nós?' Nós mesmos devemos responder a essas perguntas. Certamente que existem filosofias que dizem existir um atman permanente, que é a raiz de tudo que existe. Mesmo que seja assim, temos que entender o pequeno eu, e as muitas coisas que experienciamos como ilusão."

(Radha Burnier - O desafio da mudança - Revista Theosophia, Ano 101, Julho/Agosto/Setembro 2012 - Pub. da Sociedade Teosófica no Brasil - p. 9/10)